segunda-feira, outubro 30, 2006

Adeptos do Celtic não deixarão Féher caminhar sozinho

Os adeptos do Celtic de Glasgow prepararam uma homenagem ao malogrado Miki Fehér, para a deslocação da formação escocesa ao Estádio da Luz, no próximo dia 1 de Novembro, na 4ª jornada do Grupo F da Liga dos Campeões.Sensibilizado com a trágica morte do avançado húngaro, em 2004, um grupo de adeptos promoveu uma iniciativa que passa pela apresentação de uma faixa de oito metros, durante o encontro. A mítica frase «You will never walk alone» será traduzida para português e, após o apito final, a faixa será entregue aos benfiquistas.Os fundos excedentes, recolhidos para esta iniciativa, serão doados a um hospital de Lisboa. «É um gesto fantástico dos nossos adeptos e um exemplo do que são os adeptos do Celtic. A sua conduta na Europa já foi reconhecida pela UEFA e FIFA, que lhes atribuíram dois prémios de Fair Play», disse o director executivo do clube, Peter Lawell.

domingo, outubro 08, 2006

Numa época sem valores, sabe bem recordar grandes sonhadores....


É o símbolo da luta contra o salazarismo. Com um inflexível código de honra, iniciou a actividade revolucionária quando estudava na Faculdade de Direito de Lisboa. Preso pela PIDE durante 11 anos, foi eleito secretário-geral do PCP em 1961. Cunhal era um expoente de inteligência e astúcia. Por nascimento e educação nunca deixou de ser um aristocrata, mas abdicou de tudo em prol de um ideal. "Teve uma fidelidade inquebrantável aos valores em que acreditava, mesmo quando estavam a ruir por completo", lembra João Soares, deputado do PS. Ministro sem pasta dos primeiros quatro Governos do pós-25 de Abril. Autor de vasta bibliografia.
Há vidas que se confirmam à custa de rupturas. A de Álvaro Barreirinhas Cunhal é uma delas. "Por nascimento e educação, ele nunca deixará de ser um aristocrata. Por mais que se misture com o povo e aprenda a gostar de sardinhas assadas e tinto do barril, terá sempre um porte fidalgo", escreveu, em Abril de 1996, o escritor Mário de Carvalho. Cunhal nasceu na freguesia da Sé Nova, em Coimbra, no dia 10 de Novembro de 1913. A sua infância foi vivida em Seia, terra do seu pai. Liberal e republicano, o pai nunca foi comunista. Era advogado de província nas horas livres, pintava e escrevia, tendo mesmo publicado cinco livros - "Senalonga", "Nevrose" e três peças teatrais -, sob o pseudónimo de Jorge Serôdio. Álvaro manteria viva esta tradição cultural. Avelino Cunhal - homem de forte personalidade e de sólida cultura humanista, diz quem o conheceu - marcaria profundamente o filho Álvaro. Foi nesses tempos que foi construindo a sua elasticidade mental sem complacência. "Cunhal resiste, com as suas crenças de juventude, até ao século XXI", lembra o jornalista e escritor Pedro Mexia. Já com a mãe, católica fervorosa, a relação era conflituante. Em casa, para provocá-la, o jovem Álvaro chegava a andar de fato-macaco. Um dia convenceu um amigo barbeiro a ensinar-lhe a cortar o cabelo, porque queria ter "uma profissão operária". É conhecido o seu completo desapego aos bens materiais. "Ele poderia ter sido muitas outras coisas, mas abraçou um ideal, uma convicção e levou até ao fim a sua luta", lembra a deputada do PCP Odete Santos. Álvaro Cunhal frequentou a escola primária mas abandonou logo ao fim do primeiro dia de aulas. Passou a ser directamente ensinado pelo pai - que aceitou o acto de rebeldia - na casa das cercanias da Serra da Estrela. Com onze anos Cunhal mudou-se com a família para Lisboa, onde fez os seus estudos secundários no liceu Pedro Nunes e, mais tarde, no liceu Camões. Álvaro Cunhal iniciou a sua actividade revolucionária quando estudante na Faculdade de Direito de Lisboa. Aí começava a nascer aquele que, mais tarde, haveria de se afirmar como o símbolo da resistência ao Estado Novo e o principal inimigo político do salazarismo. De certa forma, a história de Álvaro Cunhal confunde-se com a história de Salazar. Como uma fera em vigilância, desde muito novo que Cunhal participou no movimento associativo e, em 1934, foi eleito representante dos estudantes no Senado Universitário. Passa a ser militante da Federação da Juventude Comunista Portuguesa (FJCP), sendo eleito seu secretário-geral em 1935, ano em que passa à clandestinidade e participa, em Moscovo, no VI Congresso Internacional Juvenil Comunista. Foi membro do Partido Comunista Português (PCP) desde 1931. "Destaco a sua firmeza. Não é intransigência - é firmeza. Tendo determinado objectivo, era um homem que não claudicava. É a firmeza nascida de uma grande clareza sobre o futuro do mundo", diz Odete Santos. "Che Guevara foi co-autor de algumas execuções sumárias lamentáveis, mas apesar de tudo foi um homem que deu a vida pelos valores em que acreditava. Álvaro Cunhal é uma personagem da mesma têmpera", afirma, por sua vez, João Soares, deputado do PS. Preso em 1937 e 1940 e submetido a torturas, Cunhal voltou imediatamente à luta logo que libertado depois de alguns meses de prisão. Participou na reorganização do PCP, em 1940/1941. Vivendo de novo na clandestinidade, foi membro do Secretariado de 1942 a 1949. Preso de novo nesse ano, fez no tribunal uma severa acusação à ditadura fascista e a defesa da política do partido. Condenado, permanece 11 anos seguidos na cadeia, quase oito dos quais em completo isolamento. "Em relação a ele sempre senti um misto de respeito mas também de temor. Havia o peso da sua vida heróica, o peso da sua inteligência, da sua dimensão ideológica", diz Odete Santos. "Ainda me esmaga a imagem do Álvaro Cunhal." Em 3 de Janeiro de 1960 evadiu-se da prisão-fortaleza de Peniche com um grupo de destacados militantes comunistas. Bem vistas as coisas, Álvaro Cunhal foi uma espécie de campeão da sobrevivência. A 25 de Dezembro de 1960 nasceu a sua única filha, Ana Cunhal, fruto da sua relação com Isaura Maria Moreira. De novo chamado ao Secretariado do CC, foi eleito secretário-geral do PCP, em 1961. Desde então, participou em inúmeros congressos, conferências internacionais e encontros com partidos comunistas e outras forças revolucionárias. Em 1968, Cunhal presidiu à conferência dos partidos comunistas da Europa ocidental, o que é revelador da influência que já nessa altura detinha no movimento comunista internacional. No dito encontro, mostrou-se um dos mais firmes apoiantes da invasão da então Checoslováquia pelos tanques do Pacto de Varsóvia, ocorrida nesse mesmo ano. Depois da queda do regime em 25 de Abril de 1974, foi ministro sem pasta dos primeiros quatro Governos Provisórios e eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1975 e à Assembleia da República até 1987. Tudo nele sugeria firmeza, solidez, controlo. "Teve uma fidelidade inquebrantável aos valores em que acreditava, mesmo quando eles estavam a ruir por completo", lembra João Soares, deputado do PS. "Mas que se mantém numa linha de grande firmeza, contra ventos e marés. Há aí qualquer coisa de particularmente bonito." Mas há mais. Álvaro Cunhal foi membro do Conselho de Estado de 1982 a 1992. Na aplicação das decisões do XIV Congresso do PCP (1992) relativas à renovação e à nova estrutura de direcção, deixou de ser secretário-geral do PCP e foi eleito pelo Comité Central Presidente do Conselho Nacional do Partido. Em Dezembro de 1996 (no XV Congresso do PCP), extinto o Conselho Nacional do PCP e o cargo de seu Presidente, foi reeleito membro do Comité Central. Além de tudo isto, Álvaro Cunhal tinha muitos outros interesses: era um homem da cultura. "Não sei como é que aquele homem teve horas durante toda a sua vida para lutar duramente, escrever, teorizar e ainda para saber traduzir Shakespeare…", espanta-se Odete Santos. Dos seus escritos destacam-se "Rumo à Vitória", "A Revolução Portuguesa - o passado e o futuro", "O Partido com Paredes de Vidro", "Desenhos da Prisão I e II". Com o pseudónimo de Manuel Tiago, escreve "Até Amanhã, Camaradas", "Cinco Dias, Cinco Noites", "A Estrela de Seis Pontas", "A Casa de Eulália". "É uma grande personalidade com várias facetas notáveis", remata Odete Santos.